Jogos Vorazes | nem autoral nem artesanal o bastante

Jogos Vorazes (2012) retrata uma sociedade futurista que gira em torno de um espetáculo televisivo violento, uma arena onde adolescentes lutam até a morte. Provavelmente é injusto cobrar deste filme um olhar mais pessoal ou autoral de seu diretor, Gary Ross. Os melhores cineastas sabem como contornar limitações em trabalhos de encomenda. Mas boa parte destas franquias baseadas em best-sellers (Harry Potter, Crepúsculo, etc) são muito eficientes em castrar esse olhar pessoal de seus realizadores. Ross, por exemplo, não consegue trabalhar ou problematizar no filme o fato de que os jogos são um show de TV.

Durante uma conversa com Felipe Moraes, ele especulou como seria Jogos Vorazes se dirigido por Mark Neveldine e Brian Taylor (Motoqueiro Fantasma, 2011). Respondi que eles já tinham feito este filme, Gamer (2009). Goste-se ou não daquele filme, sua montagem videoclipe/videogame e seu visual agressivo, quase experimental, expressavam o inferno capitalista daquele mundo futurista. Um autêntico filme de autor(es). Jogos Vorazes não tem esse olhar pessoal. Mas poderia ser uma aventura atraente com um bom artesanato: narrativa eficiente, cenas de ação, etc. Infelizmente, Ross também não tem essa capacidade.

As limitações dele como diretor ficam mais evidentes durante a segunda parte do filme (o treinamento, os jogos). Por exemplo, num filme de pouco mais de duas horas não é mesmo possível conhecer cada um dos 24 participantes da arena. Mas um cineasta melhor tentaria tornar os jogadores, ao menos os importantes, em figuras interessantes. Seja através do tipo físico dos atores, ou de um figurino diferenciado, etc, ele poderia tentar sugerir algo sobre a personalidade deles ou de onde vieram. Infelizmente os lutadores, apesar das supostas diferenças (étnicas, de classe social, e de faixas etárias), parecem recrutados pela mesma agência de modelos. A narrativa é outra deficiência: em nenhum momento fica claro quais são as regras do jogo (constantemente quebradas pela gerência do programa, verdade) ou quantos adversários faltam para a partida acabar.

Acreditem, queria ter gostado mais de Jogos Vorazes, pois acho um filme simpático, principalmente por causa de sua protagonista (Jennifer Lawrence, já uma especialista em garotas de coragem). Destemida e independente, é uma das heroínas mais interessantes a surgir nestes blockbusters recentes. É ela quem garante nossa atenção.

Jogos Vorazes (2012). Dirigido por Gary Ross.

3 respostas em “Jogos Vorazes | nem autoral nem artesanal o bastante

  1. Sabe que esse filme, por incrível que pareça, está entre os lançamentos que eu mais gostei em 2012? Gostei bem mais dele do que de OS VINGADORES. O que é doloroso pra mim dizer isso.

    • Vamos ter que concordar em discordar, Ailton. Apesar de Os Vingadores ter alguns problemas, para mim é um exemplo de filme mais interessante e com mais personalidade do que Jogos Vorazes.

      • Não sei se tem mais personalidade. Ambos são filmes com bons diretores no comando, mas seguindo a linha que os produtores querem que façam. Os resultados são bons, mas JOGOS VORAZES me pareceu mais envolvente. Surpreendentemente. Talvez tudo tenha a ver com expectativas criadas opostas em relação aos dois filmes. Ou não.

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